quarta-feira, 5 de setembro de 2007

ANTONIO MIRANDA FERNANDES


Anoite se estendia pela cidade

Que se aquietava na mansidão.

Eles passeavam de braços dados

Diante de portas abertas.

Salas iluminadas,música de viola

Samambaias de metro nas varandas.

Ela, levitando de felicidade,ia um pouco inclinada para frente

E, vez ou outra, segurando a saia de lado,

Saltitava com um pé só e graça lajota da calçada, jogando amarelinha.

E ria,e quase o desequilibrava

Rodopiando na inesperada ciranda.

Às vezes, equilibrista no meio fio

Andava de braços abertos e passos largos,de bailarina.

Nas pontas dos pezinhos com leveza da garça

E assoprava arremedo de assovio no “atirei o pau no gato-to-to”.

Perdia o prumo,curvava e rindo como menina, voltava e recomeçava.

Na praça casais apaixonados,abraçavam-se em beijos apressados

No fluir do tempo célere.

Entraram numa lanchonete.

Ele café,ela sorvete de creme ao run na casquinha.

Pazinha de madeira e tudo brincadeira continuaram andando e conversando.

Enquanto janelas eram cerradas sobre jardineiras de gerânios e malvas,sob luzes amarelas de lampiões presos a paredes caiadas

Na volta, já com a estrela Dalva chamando as cadentes com pedidos,ela parou num repente e pediu,colando seu rosto no rosto dele.

“Psiu, ouça o trem que me leva nua para ser sua.

”Ele aguçou os sentidos e olhou o silêncio do lusco-fusco para escutar

Só ouviu o aroma da dama da noite e, nos jardins, grilos que iam embora.

Então, ela com o olhar enternecido,a mão úmida e ardente de emoção pegou a mão dele e delicadamente,pousou-a sobre o seu coração.

“Querido,meu querido,ouve agora?”