
Acordei ainda há pouco.
Sonhei novamente contigo.
Assistíamos, deitados, a um esplêndido pôr-do-sol.
Minha cabeça encostada no seu peito,
deixando meus cabelos à altura do seu queixo
e da sua boca.
Beijei-o e senti o cheiro do seu perfume,
melhor dizendo, sonhei o cheiro do seu perfume.
Sonho-te diversas vezes, durante muito tempo.
Sonho-te diversas vezes, durante muito tempo.
Seus olhos não se desviavam da magnificência do sol
irrompendo contra o forte e distante horizonte.
No entanto, ainda chegava alguma iluminação
naquele quarto surrealmente grande e na penumbra.
Iluminavam seus olhos que irradiavam uma cor diferente.
Era bonito.
Simples assim, bonito.
Não bonito como Chopin ou Neruda.
Era bonito simplesmente por ser capaz de me retirar
qualquer outra concepção de parâmetro para beleza.
Como o belo deve ser:
-inexpressível em palavras.
Deve não por obrigação.
Deve por suposição.
Para mim, belo era ver você.
Sonhei-te nu, debaixo dos lençóis, vendo um pôr-do-sol
Sonhei-te nu, debaixo dos lençóis, vendo um pôr-do-sol
todo pintando em óleo no horizonte
longe que ansiávamos quando juntos.
Ouvi sua voz, seu gemido sorrindo e falando amenidades.
Suas amenidades eram poesias de borboletas
em revoada sobre enormes papoulas.
Eu não sabia que borboletas eram poetisas
e você apenas me disse:
-"não são poetisas, são poéticas".
Você não desviou do horizonte uma vez sequer.
Você não desviou do horizonte uma vez sequer.
Acordei com suas palavras no meu ouvido.
Acordei ainda há pouco.
Revirei-me na cama como borboleta em crisálida,
mas acho que ainda não rompi o meu casulo.
E sei que, enquanto te escrevo,
você ainda deve estar dormindo.
AUTOR(A): DESCONHEÇO