sábado, 8 de setembro de 2007

Antônio Miranda Fernandes


O céu esvaecido em garoa fina corpo curvado ao frio caminha

Embaçando a verdade no olhar da face triste andeja por andar

O vento que fustiga rosto triste maltratando, no castigo insiste,

Uivando entre prédios gelados algoz feroz de açoites soprados

Misturado ao mundo caminha no novelo da moira como sina

Andar trôpego pelo abandono se...

Desperto, parece ter sono e soma-se a casacos, sapatos,

Faróis de automóveis ingratos,Guarda-chuvas, tosses, passos inseguros vão,

descompassos outros passam rápidos,

a esmo seguem fugindo de si mesmos

Necessidade de debandar sempre a lugar algum; fuga permanente...

Gente que se esbarra, apinhada,

teimosa caminhada para o nada em prognóstico de mau agouro,

Rebanho tangido ao matadouro.

Tantas cabeças, pernas e braços onde poderia deitar seu cansaço?

Na multidão não vê ombro amigo peito quente que fosse um abrigo mão que no seu braço pousasse como bússola o norte apontasse

entregar-se-ia em suspiro profundo

Com forças para vencer o mundo.

As luzes de néon multicoloridas...

Raios de mil cores tremeluzidas...

Asfalto molhado reflete lucilando

Espelhando o mundo vai brotando,de cabeça para baixo, mais gente...

Mais urbanos zumbis indiferentes e não vê ombro amigo ou abraço

Onde pudesse deitar seu cansaço olhares nos olhares sem desvios

Olhando nos olhos sem desafios...

Passos fossem os mesmos passosSem oco, sem eco,

aí seriam laços para seguirem juntos aonde fosse ó buscado par de entrega e posse...

Mas urdidor desfeito na multidão,vai-se agregado à mesma solidão.

Gente, vozes, alaridos e clamores as ladainhas da massa de odores,

ironia da vida em sociedade urbanaIgrejas, buzinas, crenças profanas

Onde sobejam companhias alugadasPara trocas de conversas amargas

E da feiúra de fato por falsa beleza pernas roçadas por baixo das mesas taças embaçadas de dores igualadas na fuga da bebida tomada às goladasAo som de música viciada e asfixiada

Pela amarelenta fumaça assoprada...

Engolida, sussurrada e também cuspida dos cigarros que levam nacos de vida trocados por fatias breves de atenção o que importa?

Mesmo sendo ilusão?

Nascido humano.

Vivente desumano tal como teatro, quando desce o pano cada qual com sua verdade ou mentira,tanto faz, o que importa é cingir a lira.

Solidão implacável o corpo frangalhaAndou pela vida buscando a migalha

Que sentisse:

-O abandono, frio e fome...

Um ser querido e soubesse seu nome...

Nenhum comentário: