
O céu esvaecido em garoa fina corpo curvado ao frio caminha
Embaçando a verdade no olhar da face triste andeja por andar
O vento que fustiga rosto triste maltratando, no castigo insiste,
Uivando entre prédios gelados algoz feroz de açoites soprados
Misturado ao mundo caminha no novelo da moira como sina
Andar trôpego pelo abandono se...
Desperto, parece ter sono e soma-se a casacos, sapatos,
Faróis de automóveis ingratos,Guarda-chuvas, tosses, passos inseguros vão,
descompassos outros passam rápidos,
a esmo seguem fugindo de si mesmos
Necessidade de debandar sempre a lugar algum; fuga permanente...
Gente que se esbarra, apinhada,
teimosa caminhada para o nada em prognóstico de mau agouro,
Rebanho tangido ao matadouro.
Tantas cabeças, pernas e braços onde poderia deitar seu cansaço?
Na multidão não vê ombro amigo peito quente que fosse um abrigo mão que no seu braço pousasse como bússola o norte apontasse
entregar-se-ia em suspiro profundo
Com forças para vencer o mundo.
As luzes de néon multicoloridas...
Raios de mil cores tremeluzidas...
Asfalto molhado reflete lucilando
Espelhando o mundo vai brotando,de cabeça para baixo, mais gente...
Mais urbanos zumbis indiferentes e não vê ombro amigo ou abraço
Onde pudesse deitar seu cansaço olhares nos olhares sem desvios
Olhando nos olhos sem desafios...
Passos fossem os mesmos passosSem oco, sem eco,
aí seriam laços para seguirem juntos aonde fosse ó buscado par de entrega e posse...
Mas urdidor desfeito na multidão,vai-se agregado à mesma solidão.
Gente, vozes, alaridos e clamores as ladainhas da massa de odores,
ironia da vida em sociedade urbanaIgrejas, buzinas, crenças profanas
Onde sobejam companhias alugadasPara trocas de conversas amargas
E da feiúra de fato por falsa beleza pernas roçadas por baixo das mesas taças embaçadas de dores igualadas na fuga da bebida tomada às goladasAo som de música viciada e asfixiada
Pela amarelenta fumaça assoprada...
Engolida, sussurrada e também cuspida dos cigarros que levam nacos de vida trocados por fatias breves de atenção o que importa?
Mesmo sendo ilusão?
Nascido humano.
Vivente desumano tal como teatro, quando desce o pano cada qual com sua verdade ou mentira,tanto faz, o que importa é cingir a lira.
Solidão implacável o corpo frangalhaAndou pela vida buscando a migalha
Que sentisse:
-O abandono, frio e fome...
Um ser querido e soubesse seu nome...